
A vaidade masculina tem uma história curiosa.Alterna entre se assumir e se esconder, dependendo da cultura e da época. Pois sejam quais forem os padrões vigentes, a aparência determina muito da percepção dos outros sobre nós. É expressão de poder, atributo que sempre andou de mãos dadas com a virilidade.
Depois vieram os dândis, cavalheiros perfeitos e de apurado senso estético, com suas mangas bufantes e golas enormes. Oscar Wilde, Charles Baudelaire e o carioca João do Rio.Quase tudo que hoje poderia ser visto como frescura ou caprichos de "mulherzinha" já foi feito por homens admirados por outros homens. Líderes, sacerdotes, guerreiros, artistas, reis.Calha que, no século XIX, a vaidade masculina voltou pro armário.
A revolução industrial e o racionalismo colocam os homens como uma figura cartesiana e desprendida da estética. As mulheres permanecem frágeis, passivas, agradáveis cuidadoras e belas a todo momento, destinadas ao deleite de seus consortes.A austeridade estética se impõe aos homens. Cuidar de si além do mínimo necessário a nada serve. Que se varram as emoções exageradas e sinais de fraqueza para debaixo do tapete. A identidade masculina dessa época se constrói negando tudo aquilo percebido como feminino.
O suposto sexo forte a todo momento precisa dizer que não é mulher, nem fracote, infantil ou manso. É macho, comedor de pregos, capaz de sustentar qualquer parada, sempre pronto. Ser masculino se distancia do contato, da troca, da cumplicidade e do zelo. As bases dos papéis de gênero atuais se consolidam.Só que ninguém aguenta esse peso sem entortar. Homem é gente. E gente precisa de cuidado.Após a metade do século XX, referências únicas são esquecidas e outras identidades, ainda que tímidas, sobem no tablado.
Para ostentar virilidade, a preocupação com aparência recebe sinal verde. Ter sucesso profissional, conquistar mulheres, exibir forma física e alardear sua saúde adentram o inconsciente coletivo dos homens como justificativas para se preocupar com o reflexo no espelho.
A vaidade, que jamais deixou o palco, retorna à cena.
Que os homens entendam que sempre foram e ainda são vaidosos. Apenas expressam tal traço de outros modos.Que cada um de nós cultive sua beleza como bem entender. Com uma necessáire cheia ou se virando com água e sabão.Sem medo de expor nossa relação com a aparência, seja ela qual for. Construir a masculinidade para além de uma caixinha com limites e regras é um convite à liberdade.
Afinal, não se nasce homem. Torna-se homem.
E nenhum creme hidratante vai tirar isso de você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário